Ferdinand de Saussure

Ferdinand de Saussure





Ferdinand de Saussure (1857-1913) foi um importante linguista suíço, estudioso das línguas indo-europeias, foi considerado o fundador da linguística como ciência moderna.

Enquanto estudava Física e Química na Universidade de Leipzig, na Alemanha, paralelamente estudava linguística fazendo curso de gramática grega e latina. Em 1874 iniciou sozinho o estudo de sânscrito, usando a gramática de Franz Bopp. Para se aprofundar nos estudos de linguística, ingressou na Sociedade Linguística de Paris. Em 1876 iniciou os estudos em línguas indo-europeias na Universidade de Leipzig.

Ainda estudante, Ferdinand Saussure publicou seu único livro, um estudo em linguística comparativa, intitulado “Mémoire sur le Système Primitif des Voyelles dans les Langues Indo-européennes” (Memórias Sobre o Sistema Primitivo da Vogais nas Línguas Indo-Europeias) .

Em seguida, Saussure se dedicou ao estudo de sânscrito, celta e indiano, em Berlim. Em 1880, Saussure doutorou-se na Universidade de Leipzig com a tese “De L’emploi du Génitif Absolu em Sanscrit” (Sobre o Emprego do Genitivo Absoluto em Sânscrito).

Seu reconhecimento veio com a publicação da obra póstuma “Cours de Linguistique Générale” (Curso de Linguística Geral), publicado em 1916, três anos após sua morte. A obra foi compilada a partir dos apontamentos de classe de seus discípulos e alunos suíços Charles Bally e Albert Séchehaye, que reuniram os textos dos cursos ministrados por Saussure durante seus últimos anos na Universidade.

O livro “Curso de Linguística Geral” teve uma importância ímpar para linguística, pois além de estudar a língua como elemento fundamental da comunicação humana, estabeleceu as bases de todos os estudos que se desenvolveram posteriormente, sendo considerada decisiva para o estabelecimento da linguística moderna.

O estruturalismo, conforme exposto na obra de Saussure, baseia-se na convicção de que a linguística é um sistema abstrato de relações diferenciais entre todas as suas partes.

Ferdinand Saussure estabeleceu uma série de definições e distinções sobre a natureza da linguagem para fundamentar suas afirmações:
  1. a diferenciação entre língua, sistema de signos presentes na consciência de todos os membros de uma determinada comunidade linguística, e discurso, realização concreta e individual da língua em determinado momento e lugar por cada um dos membros da comunidade.
  2. a consideração do signo linguístico, elemento essencial na comunidade humana, como a combinação de uma expressão e um conteúdo, cuja relação arbitrária se define em termos sintagmáticos (entre os elementos que se combinam na sequência do discurso), ou paradigmáticos (entre os elementos capazes de aparecer no mesmo contexto).
  3. a distinção entre o estudo sincrônico da língua, ou seja, a discrição do estado estrutural da língua em um dado momento, e o estudo diacrônico, descrição da evolução histórica da língua, que leva em conta os diferentes estágios sincrônicos. É considerado prioritário o estudo sincrônico, que permite revelar a estrutura essencial da linguagem: “A língua é um sistema em que todas as partes podem e devem ser consideradas em sua solidariedade sincrônica”.



A semiologia




As noções de signo, significado e significante levaram o suíço a ser reconhecido como um dos fundadores da semiologia, a ciência que estuda, precisamente, os signos, os símbolos, e as noções inerentes a estes nos contextos em que atuam. Na linguística, os eixos sintagmático e paradigmático foram aqueles nos quais a descrição das palavras se desdobrou. O termo advém do grego semióticos, um interpretador de signos.

A ver do suíço, um linguista é capaz de desenvolver uma análise diacrónica de um texto, mas deve contar com uma forte base histórica daquilo que são as estruturas do idioma que está a escrutinar. Isto sustenta-se na definição de linguagem, que é um sistema de signos que expressam ideias, composto e desenvolvido através da atividade social, e parte componente dos estudos da psicologia. Naquilo que são os signos, estes podem ser aplicáveis a qualquer contexto onde se possa efetuar uma análise dos símbolos e signos existentes, chamando a essa prossecução a semiologia.

Para lá da historicidade da língua, o enfoque foi conferido aos padrões e funções desta, assente na já mencionada arbitrariedade das relações entre o significado e o significante, assumindo uma análise nesse trilho. A importância do pensamento de Santo Agostinho de Hipona não é descabida, no sentido em que visualizou o pensamento humano à imagem da adaptação sausseriana, tendo este filósofo tomado como base uma série de noções e concepções do conhecimento aristotélico e neoplatónico.

Mesmo não tendo sido formalizada através do suíço, as ciências sociais viram-no a propor a semiologia aplicada à sociedade, estudada à luz da psicologia, e que investigava as causas e fundações dos signos, para além das leis subjacentes. Ao olhar do linguista, e à imagem da ciência na qual trabalhou durante uma vida, via a semiologia somente passível de ser interiorizada e acomodada após as ciências sociais se ajustarem e definirem os contextos a estudar e nos quais atuar.



A língua e o seu utilizador




Os atos discursivos, consumados nos usos concretos da língua (la parole), levam essa vontade livre singular a uma revelação, com la langue a ser regulado pelo grupo de utilizadores do idioma. Assim, o significado associa-se à langue, enquanto o significante à parole. Os vocabulários de cada idioma tornam-se herméticos, fechados e pouco receptivos à mudança, estabelecendo-se estaticamente nas suas regras gramaticais e constitutivas, e só crescendo a partir das evoluções situacionais, sociais e tecnológicas.

A langue encapsula, em si, as regras e convenções de um dado sistema significante, estando independente de utilizações e utilizadores individualizados. Por convenções, entende-se aquilo que, tacitamente, estes mesmos utilizadores acordaram, na forma deste ou daquele vocábulo possuir um certo significado, assim como a própria articulação de um certo conjunto de letras. Daqui, advêm as sucessões linguísticas discursivas (parole), onde se revelam as diretrizes da langue, que surgem como as normas de um jogo perante as escolhas e preferências individuais nesse mesmo jogo. Neste capítulo, os signos, ao articular um segmento sonoro ou escrito com uma noção, são percebidos na parole através da langue. A segunda depende da primeira de forma a uniformizar aquilo que é o processo linguístico de expressão deste ou daquele conceito, desta ou daquela ideia. É neste prisma que Saussure aponta para o estudo da langue como a etapa mais importante no entendimento de um idioma, na construção de sentidos, para lá do vocabulário de parole.



A influência




Ferdinand de Saussure seria alvo de escrutínio pelo que havia escrito e proposto após a sua morte, considerando, muitos dos seus sucessores no estudo da linguística, novas ideias, que aprofundaram os passos dados pelo suíço. O papel da cognição seria explorado, assim como a própria temporalidade do idioma, embora se fossem sustentando nas estruturas propostas, inicialmente, por Sausurre.

Conforme mencionado, o estruturalismo de Saussure seria uma ferramenta conceptual a partir da qual muitos desenvolveram profundo trabalho. Neste núcleo, incluem-se vários franceses, como o antropólogo Claude Lévi-Strauss, o psicanalista Jacques Lacan, o também linguista, teórico e filósofo Roland Barthes, e o filósofo Jean Baudrillard. A própria semiologia foi revalorizada, homologada, e adaptada ao estudo da lógica filosófica, tanto do ponto de vista do discurso comunicativo, como da própria representação dos agentes protagonistas deste. Para além, também conheceria um novo cunho, após estudos mais contemporâneos, passando a designar-se, enfim, por semiótica.

Ferdinand de Saussure tornou-se proeminente na formação e formulação científica e estruturalista da linguística. O seu papel na construção de um entendimento das línguas e dos idiomas nacionais e internacionais desdobrou-se numa análise que se repercutiu por outras áreas do saber, capazes de aplicar, no seu entendimento e explicação da realidade social, o método científico. Codificando e orquestrando métodos e signos, Saussure construiu a simbologia de uma falada e mentalizada metodologia.