Umberto Eco



Umberto Eco




Umberto Eco (1932-2016) foi um escritor, professor, filósofo e crítico literário. Nasceu em Alexandria, na Itália, e falesceu em Milão.



A SEMIÓTICA DE UMBERTO ECO

“a esfera de todo o conhecimento humano se reduz à física, à ética e à semiótica” - COMENTÁRIO DE ECO SOBRE LOCKE

Umberto Eco declara que todo filósofo, antigo ou moderno, tiveram trabalhos relacionados à semiótica, o que segundo ele, representava uma ameaça ao pensamento conseguinte a época:

“Sendo assim, não podemos deixar de ficar impressionados com o fato de os manuais de história da filosofia 'apagarem' estas semióticas, como se a necessidade de reconduzir toda uma filosofia ao problema do signo representasse uma ameaça a ser afastada, para não perturbar os sistemas e a imagem confortante que a tradição deles construiu.”

SIGNO E INFERÊNCIA


Para Umberto Eco, que traça um paralelo entre a semiótica e a filosofia da linguagem, é importante a distinção entre semióticas específicas e as semióticas gerais.

Distingue as semióticas específicas como gramáticas, em um amplo significado, de um determinado sistema de signos. Os signos de sinalização de trânsito urbano e os signos da linguagem de libras. É importante também para ele, a clara diferenciação entre tais semióticas e as semióticas aplicadas. Assim como abaixo:

“Estou falando de semióticas específicas e não de semiótica aplicada: a semiótica aplicada representa um campo de limites vagos, e neste caso falaria de práticas interpretativo-descritivas, como acontece com a crítica literária de cunho ou de inspiração semiótica, para a qual, creio eu, é necessário colocar problemas não de caráter científico, mas de persuasão retórica, de utilidade para fins de compreensão de um texto, de capacidade de tornar o discurso sobre um determinado texto intersubjetivamente controlável. “

Já a semiótica geral, bom, ela é mais fluida e transigente. Em suas palavras a semiótica geral possuem um discurso filosófico essencial para tal desenvolvimento, já que ela ”não estuda um determinado sistema, mas estabelece categorias gerais à luz das quais sistemas diferentes podem ser comparados”. E nesse caso, a natureza filosófica ‘do questionar’ é intrínseco; “é simplesmente constitutivo”.

MORTE DO SIGNO?

Umberto Eco denuncia uma marginalização dos signos através dos séculos. Segundo ele, houve uma tentativa de exclusão da ciência dos signos. Era possível a criação de gramáticas em semióticas específicas, porém não era permitido, em sentido amplo, uma narrativa filosofal; uma narrativa questionadora em cima de uma suposta ciência dos signos:

"Usavam-se os signos e com eles construíam-se gramáticas para produzir discursos, mas se relutava em reconhecer como discurso filosófico uma ciência dos signos.”

Ele denomina esse 'período' de “crise dos signos”. Onde era possível concretizar pensamentos sobre suas origens, porém não sobre suas origens ou ideologias embutidas. Tudo era muito superficial; nada, até o momento, era questionado sobre a sua subjetividade.

DICIONÁRIO VS ENCICLOPÉDIA


Aqui é apresentado o significado de ‘significado’. São denunciadas as ‘brechas’ de um significado breve e raso. As barreiras da linguagem são levadas em consideração, como tradução e barreiras gramaticais. O significado passa a ser desconcretizado como sentença absoluta. Por isso é substituido pelo termo ‘remetido’. Que permite a conclusão do autor sobre o tema. E para isso Umberto Eco simboliza o exercício abaixo:

“Suponha-se que um emissor produza para um destinatário, em referência a uma língua comum L, a expressão /A rainha é mulher/. É ela composta de cinco expressões simples (a-rainha - ∅ - é - mulher) com cuja variação se poderia produzir uma expressão composta diferente como /As rainhas são mulheres/. Apesar da referência a uma língua L, o destinatário deve decidir ainda se a expressão:

  • Se refere a um indivíduo físico real (por exemplo, Elizabeth da Inglaterra);
  • Se refere a uma personagem imaginária (por exemplo, a rainha de Alice);
  • Remete aos atributos sexuais de qualquer pessoa que exerce uma certa função constitucional;
  • Se refere a uma figura das cartas do baralho ou à classe de todas as figuras desse tipo;
  • Constitui uma afirmação não desenvolvida sobre os géneros gramaticais;
  • Reflete uma opinião indireta sobre a lei sálica;
  • Vale como ordem cifrada para uma companhia de comandos.”


O remetido pode ser atribuído por um indivíduo, um conceito, ou até mesmo crenças, extrapolando para as demais circunstâncias. O problema do “significado” de modo geral, para o autor, é justamente a ausência desses remetidos.


TRATADO DA SEMIÓTICA GERAL E A TEORIA DA MENTIRA


“A semiótica tem muito a ver com o que quer que possa ser ASSUMIDO como signo. É signo tudo quanto possa ser assumido como um substituto significante de outra coisa qualquer. Esta outra coisa qualquer não precisa necessariamente existir, nem substituir de fato no momento em que o signo ocupa seu lugar. Nesse sentido, a semiótica é, em princípio, a disciplina que estuda tudo quanto possa ser usado para mentir. Se algo não pode ser usado para mentir, então não pode também ser usado para dizer a verdade: de fato, não pode ser usado para dizer nada. A definição de 'teoria da mentira' poderia constituir um programa satisfatório para uma semiótica geral.”

Umberto Eco, em Tratado da Semiótica Geral, assume a semiótica como uma ciência da mentira. Pois segundo ele a dialética da semiótica, por sua ampla gama de atribuição tendo inúmeras possibilidades filosóficas, pode ou não permitir que algo seja dito, de fato. Uma faca de dois “legumes”, já que não se pode haver mentiras, não se pode dizer nada, de fato. É posto à prova uma bifurcação(citação do artigo acadêmico ‘O fundamento estrutural do pensamento de Umberto Eco’, em Referências Bibliográficas): “Note o duplo argumento a contrario no qual Eco opõe mentir a dizer a verdade e a impossibilidade de mentir à impossibilidade de dizer qualquer coisa de fato.”